segunda-feira, 8 de julho de 2019

Sensações Costuradas

Sonoros passarinhos
Parecem cada vez mais
Com as estrelas no céu
Crianças e seu toddynho

Vistas imaginárias de si
Galopam as ondas a milhão
Pra cá, pra lá, num frenesi
O barulho do caminhão

A água oscila em mim
E de mim se alimenta
Rodopia quase sem fim
Me consola, acalenta

quinta-feira, 20 de junho de 2019

Dos meus sofreres, vazios e dores

Julguei devido meu sofrer
De migalhas me satisfiz
Pouco me importei em ser
Com quase nada me nutri

Ponderei calado minha dor
Apenas aceitei suas pontadas
Sem tirar, nem mover, nem por
Todas as vozes em mim, caladas

Aceitei sozinho meu vazio
Sem nada, sem começo ou fim
Apenas eu, pequeno e aflito
Tons de preto, carvão e nanquim

Vivi sozinho minhas angústias
Porque foi assim que aprendi
Resolvo, sem dor, sem culpas
Só de mim sempre dependi

Chorei aflito meu coração
Despedaçado e retalhado
Duro de tanto ir ao chão
Mole de tanto ser martelado

Quantas coisas vivi e senti
Apesar de tudo foi aí que me fiz
Se hoje sou é porque aprendi
A ser tudo isso e mais um pouco
Um pouco triste, um pouco feliz

terça-feira, 18 de junho de 2019

Corrompido Interesse

Mentiras, desencontros, conluios e afins
Em mentes vorazes por controle e poder
Motivos escusos, vazios de si e chinfrins
Corrompem tudo que tocam sem se conter

Os mecanismos que garantem o bem comum
Se esvaem no interesse próprio e corrupções
Até quando aceitaremos calados esse 0 a 1?
Até quando aceitaremos tantos ladrões?
                                   [de colarinho branco]

segunda-feira, 10 de junho de 2019

Interpretação Voraz

Falei apenas um a e você entendeu um b
Pedi um pouco de paz e você quis guerra
Tentei de amar e você duvidou do meu ser
Quis te manter no céu mas você caiu na terra

Falei as falas mais simples e inocentes
Um sorriso amargo, um olhar de soslaio
Um meme antigo nada convincente
Um humor alterado, tal qual um raio

Sua defensiva me provoca a atacar
Mesmo quando não quero, cá estou
Não quero atacar, quero apenas amar
Mas de um a prum b tem aquela briga
                                                 que não
                                                  acabou

domingo, 26 de maio de 2019

Rico de Nada

Olhei para ti e nada vi
Olhei para mim sem ver

Não ouvi a canção do bem-te-vi
Perdi aquele programa de TV

Daquele prato não senti o gosto
O toque sutil me foi sem ser

A felicidade veio e foi tantas vezes
Que fico pensando se perdi algo

Enquanto tentava enriquecer

sábado, 25 de maio de 2019

O Copiador

Com cópia enviei meus sentimentos
Mas também os recebi copiados
Copiei o que me disseram aos ventos
E os vi caminhando descabelados

Eu daria minha vida pra ser autêntico
Mas infelizmente sou uma cópia da cópia
No começo achei que pudesse ser excêntrico
Mas logo descobri que nessa vida tudo é cópia

Entre as mais complexas mímeses
Esta civilização se ergueu sob cópias
De mentes, ideias, heróis e nêmesis
Cópias distópicas, microscópicas, cópias

Copiei e continuar a copiar me acalenta
Talvez, quem sabe, no meu último momento
Naquele último suspiro da morte lenta
Minha cópia acabe e eu seja novo rebento

Sem cópias
Espasmos de morte só meu
Sem cópias
Caindo sem parar

...ópias
Olhos
...ias
Adeus.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Marés de Incertezas

Formas indistintas em mim
Certezas se aproximam e não
Dúvidas espreitam até o fim
Sombras bruxuleantes no chão

As cores monocromáticas somem
Em uma brisa leve que me açoita
Me perco entre cores que me comem
Respiradas rápidas e afoitas

Me agarro às barras fortemente
Cá estou, aqui me faço, eu sou
Olho para mim ainda descrente
Furacão discreto que se dissipou

Ainda espantado, finjo segurança
Enquanto nado no mar da incerteza
Ainda que me agarre só à esperança
Prossigo inexorável junto à correnteza

sábado, 20 de abril de 2019

"Mais Melhor"

Não nasci de parto normal
Fui retirado do meu lugar
Acreditei que tudo era igual
Mas não sabia diferenciar

Fui sistematizado em normas
Regras de conduta e tantas leis
Aprendi a apreciar as formas
Já as saboreava aos dezesseis

Aprendi que aprender não eram
Das vantagem mais vantajosas
Aprendi a ser então, ignorante
Ideias corrosivas, pegajosas

Me ensinaram a agir igual
A maioria, o todo, o conjunto
Sem pensar além do atual
Apenas cale, atue, sem assunto

Enfadado me exauri de atuar
Porque ser sem questionar?
Tantas coisas estão fora do ar
Porque devo repetir sem pensar?

Hoje sou programado para ser
Cada dia uma pessoa melhor
Menos tóxico, menos você
Mais eu, mais tudo, mais melhor


quinta-feira, 11 de abril de 2019

Igualitariedade

Práticas incessantes
Incestas e massantes
Repetitivas e funestas
Constantes, incertas

Um vai e vem diário
Comer depois armário
Volta e repete de novo
Ano novo após de ano novo

Trabalha, escreve, volta
Volta, escreve, trabalha
Pra mesmice faço escolta
Todo dia a mesma batalha

Igual a todos os dias
Idêntico em igualdade
Igualitárias moradias
Maldita igualitariedade

quinta-feira, 4 de abril de 2019

Afundando Há Anos

Me afoguei no mar da incerteza
Bati meus braços tentando subir
Mas fui arrastado pela correnteza
Meu desejo era apenas existir

A insegurança pelos pés me puxava
Minha depressão fez peso pra descer
Minha ansiedade me estrangulava
Meu medo falava que ia morrer

Cair no esquecimento vazio
Sem fundo, sem frestas, sem nada
Porque tantos pesos, tantas amarras
Porque era tão difícil dar uma braçada?

Depois de anos ainda estou caindo
Não sei bem se um dia vou parar
Mas por hora ainda me vejo indo
Preciso parar e me concentrar

Engraçado que sei o que preciso
Mas é tão mais fácil falar
Porque me sinto tão indeciso?
Preciso me mover, preciso mudar

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Conto Dias

Conto dias como números
Finitos, definidos e aflitos
Conto também dias efêmeros
Imperceptíveis, destemidos

Conto dias em fila indiana
Um após o outro sem fim
Conto de forma cotidiana
Nada de bom ou ruim

Conto quantas vezes contei
Conto e reconto sem contar
Conto e juro que tudo sei
Conto comigo para contar

segunda-feira, 18 de março de 2019

Dedos em Riste

Dedos em riste, apontados, afiados
Quanta preocupação com o alheio
Porque descrever erros escancarados?
Tantos dedos em riste tal qual tiroteio

Dedo que se converte em língua
Preparadíssima em destilar o ódio
Envenenar o caráter e o deixar à míngua
Nunca deixar subir em qualquer pódio

Será que o medo de se ver é tão grande assim?
Talvez seja insuportável aceitar a si mesmo
Ou tão alheios de si nos encontramos no fim
Que nem olhamos pra si, preferimos ficar a esmo

São tantas questões mal resolvidas
Tantas imperfeições esperando resposta
Inúmeros medos se escondendo nas esquinas
Incontáveis problemas esperando um agora

Mas ao invés de olharmos pra si
Nos esquivamos e olhamos pra fora
Os porquês são inúmeros em mim e em ti
Olhe pra si, deixe os outros viverem
Cada qual o seu agora

sexta-feira, 8 de março de 2019

Oito de Março, Meu Caro

Neste dia se comemora toda mulher
Não apenas as festas e homenagens
Porque elas merecem aplausos de pé
Mas também idas, vindas e passagens

Passagens pelos corredores da dor
Sentida por 129 mulheres queimadas
Passagens pelos corredores morte
Em 2019 mais de 130 assassinadas

Eu, é claro, não me vejo na posição
De elogiá-las por seus feitos heroicos
Porque sou cúmplice da situação
Usufruo dos benefícios históricos

Sou homem e, portanto, co-autor
Do machismo, do feminicídio e da dor
Quantas vezes impedi aquele "bom" senhor
De tratar mal sua companheira com ardor?

Nehuma!

Gostaria que nesta data comemorativa
Para além dos parabéns efervescentes
Pudéssemos ter a pequena iniciativa
De repensar aquelas atitudes latentes

Que não se pronunciem palavras que agridem
Para que não precise existir tantas heroínas
Pois todas já o são somente por existirem
Que sejamos sim iguais, sem medo, sem sina

Que você meu caro, a quem me dirijo
Não repita os erros de seus pais valentões
Que não seja inflexível, implacável, rijo
Que possa coexistir e não ostentar culhões

Que nós homens desçamos do pedestal
de sangue, de carne, de suor feminino
E possamos caminhar juntos, tal qual
Seres humanos que se respeitam
Se amam
Se identificam
Se constroem
Se completam
Se compõe
Em face do desatino

Corações que Amam


Costumo pensar no amor como uma ação
Um substantivo não faz jus ao ato de amar
Amor romântico também me soa como ilusão
Porque amor é cotidiano, receber e também doar

Esse movimento constante e intenso entre partes
Que juntas produzem amor enquanto se atritam
Se constrói entre, no meio, nas similaridades
É sempre uma relação mútua que em dois habitam

E sabe o que muda quando pensamos amor na relação?
Esses dois podem ser qualquer um ou uma coisa qualquer
Uma pessoa, um objeto, um animal ou uma sensação
Desde que recíproca, o amor entre quem doa e quem quer

Por isso que o amor não deve ser dado papel de substantivo
Ele nos compõe, nos define e incrementa as sensações
Nunca nos leva a nada porque não é um objeto ativo
É algo que criamos momentaneamente entre corações

"Matei por que a amava"
"Espanquei porque amo demais esta mulher"
"Se não for para me amar, que se desove numa cova rasa"
"A amo do fundo do coração, ela não me ama porque não quer"

Dar o valor de objeto para uma ação o faz tomar atitudes
Atitudes que não estão no amor e sim na pessoa em questão
Não culpemos um sentimento por nossas vicissitudes
Não amemos irresponsáveis do alcance da nossa mão

Que possamos amar e ser amados enquanto satisfação
Conhecer um ao outro, incontestável e íntima relação
O amor não é um objeto para ser apenas de um, não
É construído mutuamente por mais de um coração

Corações de carne, de gelo, de pedra, inexistentes e invisíveis
Corações que se completam, se contradizem e se enamoram
Corações independentes, responsáveis, conscientes e compatíveis
Corações diferentes que se atritam e, ao amar, se concretizam


Tirinha e inspiração original: Andressa Munhoz

segunda-feira, 4 de março de 2019

Reimagine

Imagine seu desejo mais íntimo
Sua sensação mais estonteante
O pequeno detalhe mais ínfimo
Imagine tudo em uma estante

Imagine como estariam alocados
Cada prateleira cheia de imaginação
Seria por ordem ou talvez bagunçados?
Não importa quão grandes cabem em sua mão

Imagine o céu azul a brilhar diariamente
Imagine o barulho da água sempre a cair
O cantar dos pássaros incessantemente
O vento tocando a pele, refrescante devir

Agora sua imaginação cresce cada vez mais
As delimitações das retas se tornam curvas
O limiar das palavras não mais satisfaz
Os pontos são infinitos e as visões ficam turvas

Agora continue sem mim
Exercite sua imaginação
Nunca ponha a ela um fim
Reimagine toda a criação

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

O Medo do Medo

Aperto meu miocárdio sem fim
A angústia permeia cada gotícula
Do suor que transborda em mim

Apareço e desapareço aos olhos
A memória escorre entre os neurônios
Olhos em total desconforto, simplórios

A garganta segue o caminho oposto
Seca tal qual o Saara em seu dia mais longo
Engulo saliva para preencher meu desgosto

Pisco várias vezes como se resolvesse
Mas a ânsia por dar errado fala mais alto
Como se meu eu de mim se perdesse

Peço uma pausa e respiro abissalmente
O erro, se vir, virá bem pomposamente

Nem depois, tampouco previamente
Sempre durante, sempre presente

O que ocupa minha mente, então?
O medo do momento ou não?

O medo de ter medo de errar
O medo de ter medo de não controlar

O medo de ter medo de repetir
O medo de ter medo de não conseguir

O medo de ter medo
Do medo

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Noite Escura

O azul escuro do céu noturno
Preenche minhas narinas ávidas
Preto, escuro, misterioso, soturno
Esconde em mim memórias cálidas

Idas e vindas pelas constelações
Fora das luzes urbanas estonteantes
Na beira da estrada as observações
Na beira dos lábios beijos titubeantes

Me deixo levar pela noite que me espreita
Ela me acalma, me abraça e me aceita
No escuro eu sou eu e não sou ninguém
No escuro todos somos parte dele e além

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Assim Eu Vou Correndo Te Dizer

As luzes da cidade parecem tão distantes
Da sua janela tudo parece longe demais
Até as estrelas brilham como nunca antes
Longínquas, eternas, inexoráveis, casuais

Meu cigarro queima rápido entre meus dedos
Tão rápido quanto minhas ideias aleatórias
Trago enquanto espero, trago todos meus medos
Trago suas marcas, suas manias, suas histórias

Cá estou novamente a rabiscar alguns versos
Penso sobre mim, sobre você, sobre plenitude
Rasuro pensamentos prontos e também controversos
Mantenho em mim as suas rimas e sua magnitude

Entre todos os abraços e afetos mais sentimentais
Disperso, piso em calos alheio aos meus defeitos
Do barro aprendi e não repito erros monumentais
Com e para você só almejo momentos perfeitos

"E assim eu vou correndo pra você
E assim eu vou correndo te dizer
Eu amo você
Eu amo você
Eu amo você
Eu amo você"


Inspiração e trecho final: Eu amo você - João Capdeville

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Adeus Amargo Fel Depressivo

Não me chame mais pelo nome
Inflado de infames infortúnios
Deste prato não mais você come
Refuto o caos e os pandemônios

Exijo neste exato instante na alvorada
Que se retire deste local tão particular
Sua presença nunca fora assim apreciada
Não poderá nunca mais voltar ao meu lar

Escafedeu-se
Findou-se
Acabou!

O que não era mais e nunca fora
Já não poderá ser e nunca será
Vá-te embora sombra fétida, fora!
Aqui garanto que jamais voltará

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

Mais Um Por Favor

Acendo o cigarro da minha alma
Cada copo acompanhado dos tragos
Leva consigo o ar pesado e traz calma
Areja os pensamentos aos cacos

O álcool não é uma maneira de fugir
Mas um catalizador de pensamentos
Corro dentro de mim sem querer sair
Pacientemente organizo meus desalentos

Numa mão a morte líquida e lenta
Na outra mão a morte pequena e volátil
Nos lábios a palavra cheia de pimenta
No cérebro o alívio incabível, retrátil

Esqueço de me esquecer de mim ao esmo
Só mais um por favor, e disfarço o pigarro
Sem cosmel, sem limão, sem nada mesmo
Apenas com minha cerveja e meu cigarro

Escrevo.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Vazio de Ser

Eu era vazio, um vácuo, mudo
Abandonado e esquecido de tudo

Eu era nada e do nada me alimentava
Perdido, decaído e murcho, caminhava

Eu era o não ser da existência humana
Um corpo aleatório que nem calor emana

Eu era o senso comum, vazio de si
Sem conteúdo, sem começo, sem fim

Eu era o inominável calar da noite
Que anseia por findar tudo, até a morte

Eu era e ao mesmo tempo não era nada
Era porque ainda sou algo nessa jornada

Era, sou, serei

Era vazio

Sou, de você, repleto

Serei enquanto você aqui estiver

terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Sem Sair

Uma palavra circulava sem fim

Sair

E saindo iria se esgueirar à luz tardia
Contemplaria outras vistas sem sentir
Não mais se estressaria dia após dia

Outra palavra rodou rapidamente

Paciência

Já esteve paciente por tanto tempo
Será que não deveria por um fim
Nessa situação com tanto desalento?

Mais uma palavra circundou sorrateira

Amor

Claro que amo e nunca deixarei de amar
Que palavra boba para aparecer agora
Logo eu, tanto amor quanto água no mar

Uma última palavra veio rodopiando

Abraço

E a abracei tal navio abraça o cais
Sem querer sair nem me evanescer
Com toda paciência a amei demais
Num enorme abraço tudo voltou a ser

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Vento

Jogado e esticado
Caindo sempre de lado

Voando sem rumo certo
Nunca longe, nunca perto

Vendaval de moléculas
Brisas nada maléficas

Lufadas pesadas de ar
Vento que venta quer ventar

O vento, ventania, vendaval
Vem pra cá, venerável e viral

Em todo lugar que venta o vento
Venta na alma um pouco de alento

Venta no coração alheio a esperança
Venta ó vento, o vento de cada criança

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A Transa

Apertado, apertei seus apertos íntimos
Passei minhas mãos por suas passagens
Sutilmente com sutis movimentos ínfimos
Me embebedei em suas belas paisagens

Esfreguei o esfregão da minha mão na sua
Cada gota de suor se unindo em uma só
Quente como o sol queimando a lua
A dois, um par, uma dupla, ambos, nós

Entramos na entrada do subjetivo libidinal
Luzes ofuscantes em nossos olhos famintos
O começo de tudo, nosso big bang pessoal
A plenitude, o gozo, emaranhados labirintos

A realização completa do presente momento
Nunca será possível replicar a réplica da cama
Esquecemos, pois, do esquecido esquecimento
De sentir novamente o corpo de quem se ama

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Sem Sentido Além do Sentido

Conhecia as cores, os sons e os aromas
Viu e desviu o passar do tempo a voar
Da solidão já apresentava os sintomas
Mas sabia de tudo o seu devido lugar

Tudo que compreendia sua visão
Das águas que caíam ali por perto
Até os perfumes além da compreensão
Seu único medo era que fosse deserto

Árido fosse o solo brando a seus pés
Quem me dera ser mais do que posso
Almejo mas não me rendo ao desejo
Me visto, sem saber, de remorso

Explodem aromas aos pulmões abertos
Nas emulsões e misturas que completam
Percorro com pressa caminhos secretos
Que para todas as sensações, carregam

Olhos se fecham, concentrados em sentir
Os tímpanos reverberam ondas vorazes
Na pele a amargura do ser sem permitir
Ser mais que sentidos afiados e sagazes

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Acontecido Ano Estranho

Refletindo a minha miudeza
Ano estranho, esse que passou!
Mesmo que cheio de incertezas,
Sinto que eu mudei e tudo mudou!

Ideias antes escondidas tomam forma
No discurso antes velado se constroem
Finalmente vi que sempre foi um dogma
Estevam lá, escondidos enquanto corroem

Muitas coisas boas aconteceram, certamente!
Embora numa proporção um tanto quanto confusa
Muitas vezes taciturna, silenciosa, quieta e veemente
Outras vezes barulhenta, agitada, buliçosa e obtusa

Como de praxe, algumas coisas não aconteceram
Tomo total responsabilidade nessa ociosidade
Ideias verdes e atormentadas amadureceram
Práticas antigas definharam com a idade

Foi um período bem estranho, enfim
Aconteceram coisas e outras não
Aconteci muito pouco em mim
Aconteceu longe do coração

Tudo muito estranho, não?
Eu não saberia dizer
Vejo só um clarão
Daquilo que está
Para acontecer!