domingo, 25 de setembro de 2016

Meridional

Ela descontração e eu tenso
Foi risadas mil, eu apreensão
Falou suave nada imenso
Enquanto eu era construção

Veio e se foi rápida e sempre doce
Foi constante, oscilante e marcante
Sem saber ficou mesmo quando foi-se
Uma nota contínua e ressonante

Volta flor da imensidão de sorrisos
A trazer música para ouvidos secos
Meus movimentos perdidos e indecisos
Saudosos das ondulações pelos becos

domingo, 28 de agosto de 2016

Insensíveis Nadas Cotidianos

Insensível sem coração nem cor
Refaz, reconstrói e se enche de "rês"
Procura não dar importância pra dor
"Pode me servir mais um café, Cortez?"

Sal misturado ao adocicado fel do líquido
O som das buzinas e sirenes parece distante
Central, reintegra-se ao caos diário e insípido
Como apenas mais um livro na estante

Resgata memórias de um passado esquecido
E a falta de sentimentos o faz sentir gelado
Algo rápido, que some num sagaz estalido
De dedos ocupados com um cigarro apagado

Levanta, pois, para exibir na rua sua decadência
Sem se importar com nada que aconteça à sua volta
"Quem sabe assim não continuo nessa leniência
de saber que nada nunca irá bater á porta"

domingo, 17 de julho de 2016

Ares Alheios

Toques entrelaçados por estrelas
Sorrisos quietos e murchos se esvaem
O fogo ainda solta algumas centelhas
Mas mesmo assim as lágrimas caem

Um buraco enorme se faz no seio
Massacrado por moléculas de ar
A dor de cavar no peito alheio
E ajudar o vento a soprar

Mesmo que tudo um dia irá passar
A estrada parece escura e sem fim
Acreditar faz parte do respirar
Mesmo que ainda persista a palavra fim.


Ao som molhado do Radiohead - No Surprises

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Vazio Leviano

Pelas vielas esquecidas ao acaso
Se perdia e se encontrava em si mesmo
Analisando e ponderando cada passo
Mal percebia que ainda estava a esmo

Quisera pois encontrar o que procurava
Mas acabou percebendo um pouco tarde
Que mesmo estando mais do que estava
A incompletude ainda causava alarde

Ter em mãos a fantasia de um dia enluarado
Por um sol inexistente a iluminar o céu
Passos que caminham paralelos, lado a lado
Mas que se vêem caminhando sozinhos ao léu


domingo, 13 de março de 2016

Compêndio

Solares olhares radiantes de amar
Por que fui deixar isso acontecer?
Já podia prever onde isso ia dar
Desatento, me esqueci de me ater

Lunares pesares sombreados pelo mar
Já sabia tudo que iria aqui acontecer
Nada surpreende, nada irá mudar
E com verbos continuo a me envolver

Determinada e constante resolução
Não mais me preocuparei com a luz
Nem mesmo àquela melodiosa sensação
Tampouco o calor que ela produz

Já diziam os lírios brancos ao ouvido
"Corre, ó menino, o dia irá chegar ao fim"
E assim corri de minhas loucuras agradecido
Por ainda ouvir as flores de meu jardim

sexta-feira, 11 de março de 2016

Um


E se enroscam os lábios ansiosos
As mãos querendo se tornar uma só
Toques incessantes e curiosos
O atrito insistente e sem dó

Nada se pode expressar, apenas sentir
Eu, você, lençóis, respiração e olhares
Aquele constante movimento de ir e vir
Nada além de pensamentos vulgares

O grito suave soa no ouvido
Fecha os olhos, respiração arfante
Unhas cravadas na pele, libido!
O calor que emana a todo instante

Um, dois, três, não se sabe quanto tempo
Os corpos agora parecem ser apenas um
Se afastam devagar mas sentem o vento
Empurrando os dois para serem novamente
UM.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Tempo Passado


Tudo passa e continua passando
E a única coisa que não passa é você

Como explicar que eu gostaria muito
Mas não quero nesse exato momento?

Só gostaria de continuar caminhando
Respirar, conhecer, conversar e viver

Mas sempre vem aquele desejo profundo
De me perder em ti, com os cabelos ao vento

Mas logo esqueço e continuo caminhando
Enquanto isso o tempo vai passando...

O tempo vai passando...

Vai passando...

Passando...

Passou.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Imutável Ano Novo

E tudo começa novamente
Ou simplesmente recomeça
Silencioso, nada estridente
Um mormaço sem pressa
Que ressoa dentro da mente
Não se move nem se apressa
A igualdade que se faz presente

Parece que o hoje é assim para sempre
Nunca amanhã, nunca ontem, nunca nada
Cadê aquele puxão forte no ventre?
Sem susto, sem novidade, sem graça

O sol se põe e nasce infinitamente
Respiro o mesmo ar há anos
Tudo é igual, nada é diferente
Inexoráveis pensamentos levianos

O que mudar enquanto nada se muda?
Já se desfaz em folhas o buquê de arruda
Não se complica mas também não se ajuda
Imutável vida que sempre passa e nada muda